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Panorâmica de Maragogipe

quinta-feira, 1 de julho de 2021

BELA IGREJA E GRANDE DEVOÇÃO (II)


 

           No ano de 2014 escrevi com o título acima um pequeno texto fazendo referência ao valor da Matriz de São Bartolomeu e alertando para os riscos de perdermos um patrimônio tão valioso para a nossa fé e para o acervo patrimonial de nossa cidade. Pois bem, depois de três longos anos, ai está a nossa Matriz totalmente recuperada, voltando ao seu estado original, bela e majestosa, abrigando seu Padroeiro, local no qual se fazem orações e pedidos, entoam-se cantos maviosos, celebrações são realizadas, tudo com o propósito de testemunhar a fé da gente maragogipana em seu Patrono.

Hoje em meio à alegria dos devotos de São Bartolomeu por receberemos a nossa matriz nova em folha é preciso não perder de vista quão importante será manter tão belo templo sempre bem cuidado, deixando à mostra toda a sua beleza e simplicidade, como um local de orações, suplicas e pedidos, ponto de encontro de fé e de devoção, local no qual todos aqueles que seguem os ensinamentos de Jesus encontram tranquilidade.

Nunca será demais repetir que a construção da Igreja de São Bartolomeu, principal monumento arquitetônico de nossa cidade, construída no ponto mais alto da península, a partir de 1643, por iniciativa do português Bartolomeu Gato, deu majestade ao sitio onde atualmente repousa nossa cidade, originando-se dai a cidade que tanto nos orgulhamos. Para o êxito da construção a população da época não mediu esforços. Os que não dispunham de recursos, ajudavam com trabalho, mas, todos visavam ter a igreja pronta. Essa empreitada durou 70 anos, segundo alguns, mas fato é que os maragogipanos nunca deixaram de sonhar com uma bela e majestosa igreja como fora prometida pelo colonizador dono da sesmaria.

Foi a partir dessa construção, tão bela e esplendorosa, que domina o ponto mais alto da península que a cidade nasceu e em seu entorno nasceram becos, ladeiras, ruas estreitas e mal traçadas, por onde caminha humildemente a nossa história. O grande exemplo é a mais antiga rua da cidade, a primeira de traçado estreito e sinuoso, a atual Geni de Morais, que se denominava Rua Nova do Comércio, dando origem a outras e mais outras, além de ladeiras e becos e assim o aglomerado urbano da nascente cidade de Maragogipe se deu de forma acidentada, com ruas mal traçadas, muito estreitas, próprias para carroças da época, mas que hoje apresentam perigo para a locomoção das pessoas diante do número de carros e motos.

Quando afirmamos que a construção da nossa Igreja Matriz de São Bartolomeu foi o fator que propiciou o surgimento da nossa Cidade o fazemos de modo consciente analisando a grandeza do templo para os padrões da comunidade que existia na época de sua construção e considerando a pequena população local.

A matriz ocupa uma área de 1749 m2. Sua fachada tem uma porta central trabalhada em madeira de lei, adornada por uma bela portada em pedras de cantaria, ladeada por duas outras menores também do mesmo feitio. Na altura do coro temos três janelas estilo guilhotina, encimadas por um frontão sobre o qual existe uma cruz. Completam a sua fachada duas torres encimadas por pirâmides embrechadas de pedaços de louças. Em cada uma das torres existe um terno de sinos que por muitos anos fizeram parte dos sons da cidade, pois, tinham as mais diversas funções: marcavam as horas; avisavam quando havia falecimento ou outro evento que merecesse chamar atenção da população. Nas celebrações religiosas eles tinham a missão de “falar com os anjos”, mormente nas “festas de Agosto” como os antigos se referiam à Festa de São Bartolomeu. No momento os sinos são tocados em momentos esporádicos, estão quase silenciosos em razão do politicamente correto, já que, para uns os sinos produzem poluição sonora, sem atentarem para os carros de som que infernizam a nossa vida, a qualquer hora do dia ou da noite, e para os quais há proibição, mas não é respeitada. Sinais dos tempos!

Continuando com os detalhes de nossa matriz. O interior da matriz é de beleza singular. Seus altares ricamente trabalhados, ornados em ouro e em número de seis estão distribuídos pelo seu interior. Há também duas capelas laterais: uma do Santíssimo Sacramento e em frente outra do Sagrado Coração de Jesus. Completando o conjunto em frente à entrada principal fica o altar mor, local onde está entronizada a imagem de São Bartolomeu. Nas laterais do corpo da igreja existem dois púlpitos ricamente ornamentados no mesmo estilo dos altares, esses púlpitos são sustentados por pedras de cantaria. Tem ainda duas sacristias com móveis em estilo rococó e neoclássico com três janelas no alto que dão para o altar mor. As portas de entrada e todas as outras, inclusive as arcadas do altar mor e das capelas todas são sustentadas por pedras de cantaria. O coro é sustentado por duas colunas. Tanto o coro como as tribunas da nave principal são guarnecidos por balaústres de jacarandá. O forro na nave principal é estilo gamela. E nas sacristias é em estilo caixote.

A respeito do tempo de construção muito ainda vai se discutir. Fato é que não importa o tempo que se esperou para que ela ficasse pronta. As dificuldades foram vencidas com determinação. O próprio colonizador Bartolomeu Gato pagou um preço muito alto pelo seu ideal de construir o templo de São Bartolomeu. No ano de 1655 quando a construção já ia avançada os índios tupigauéns, que habitavam as terras do lado sul nas cercanias de Capanema, assombrados com tamanho da obra, que viam de longe, certo dia, atacaram os homens que nela trabalhavam. Foi criado um grupo para dar combate aos silvícolas. À frente deste pelotão seguiu o jovem Gaspar, primogênito de Bartolomeu Gato. Depois de ferrenha luta os silvícolas foram derrotados, mas, o jovem Gaspar foi ferido por uma flecha que lhe traspassou o peito e após três dias de sofrimento, em leito de morte, veio a falecer deixando seus pais muito abatidos, ocasião em que o colonizador Gato prometeu à sua esposa que tão logo a igreja ficasse pronta iria embora o que aconteceu em 1658.  Este o preço que foi pago pelo colonizador e construtor da igreja Matriz de Maragogipe. No ano de 1658 deixou Maragogipe o colonizador Bartolomeu Gato, antes porém, passou por testamento os bens que aqui possuía para Igreja de São Bartolomeu de Maragogipe.

Temos ai um pequeno relato, em aligeiradas palavras, visando conscientizar as pessoas de que a nossa Matriz de São Bartolomeu é um marco na nossa história religiosa e cultural, numa ligação indissolúvel, com mais de três séculos de devoção, tempo no qual belas páginas foram escritas realçando o seu valor.

Por fim, alegre e feliz pela restauração da vetusta e bela Matriz de São Bartolomeu, registro aqui, na condição de amante das tradições e da história de Maragogipe, nosso agradecimento a todos que estiveram envolvidos para o êxito da restauração, sem citar nomes especificamente para não suscitar ciúmes, pedindo a São Bartolomeu que a todos proteja, esperando que todos estejam conscientes de que esse patrimônio é de Maragogipe, de sua fé e de sua história.

Viva São Bartolomeu!

Benedito Jorge C. de Carvalho

Junho/2021.