HOMENAGEM A MARAGOGIPE
EM 08 DE MAIO DE 2025.
Minha
Querida Maragogipe,
Aprendi
a te amar desde meus primeiros tempos e por isso, não consigo deixar de pensar
em teu futuro que sempre sonhei de prosperidade e de paz. Hoje que completas
mais um aniversário, devo te fazer uma oração de amor que pode não ser a mais
bela, mas, por certo é a mais sincera.
Eu
percorro teu espaço geográfico e em cada canto há um detalhe que evoca o teu
passado e é assim então que me vejo em cada um dos teus momentos da história de
ontem e em cada ato da tua vida de hoje. Eu estou em tuas igrejas seculares;
nos teus velhos sobrados e casarões, sinto cada minuto da tua história nos
monumentos que embelezam esta cidade. De mil casas. De casarões e prédios
antigos. Da Casa de Câmara e Cadeia, local de raro valor arquitetônico, mas
também marco histórico, pois local da prisão do General Labatut quando das
lutas pela independência da Bahia, ocasião em que nossos maiores lutaram contra
a opressão e domínio colonizador de mais de 300 anos. Vejo-me no Fortinho da
Salamina montando guarda para que os piratas e invasores não ultrapassem a
linha de tiro daquela fortaleza e venham atacar nossos engenhos de açúcar.
Vejo-me
ao lado de Bartolomeu Gato coordenando a construção da Igreja Matriz de São
Bartolomeu. Obra grandiosa. Templo de esplendorosa arquitetura para abrigar uma
fé que nossos irmãos de ontem e de hoje sempre consideraram de imensurável
valor. O Padroeiro é sem dúvidas um dos preferidos do Mestre. É aquele que
evoca a fé nos ensinamentos do Cristo ao ponto de ser sacrificado pela sanha de
um rei despótico tendo sido cruelmente sacrificado em nome da mesma fé que
ainda nos anima.
Eu
estou na nau de Cristóvão Jaques, quando em 1526, bem ali em frente ao lagamar
do Iguape, foram encontradas duas naus francesas contrabandeando pau-brasil,
ancoradas na ilha chamada depois de ilha dos Franceses e ambas as naus foram
bombardeadas, travando-se naquele local a primeira batalha naval na América do
sul, segundo relato do Frei Vicente do Salvador na sua obra que conta a
história inicial do Brasil. Estou presente também no enforcamento de centenas
de marinheiros franceses os quais depois da vitória portuguesa, foram
enforcados, em frente à Salamina, onde depois foi construído o “fortim da
forca” para dar mais segurança aos engenhos da época.
Eu
sou aquele negro que puxa o samba de roda no lado da Matriz de São Bartolomeu
quando da lavagem do templo no meado do sec. XVII, batuque que deu origem a uma
das manifestações populares mais belas e tradicionais da Bahia: o samba de
roda. Sou aquele outro negro que, tempos depois, carrega o andor do nosso
Padroeiro sobre seus ombros e ainda filosofa dizendo que “São Bartolomeu só pesa nos ombros de quem não tem fé”. Tudo isso
para dar o testemunho de que nossas tradições já dobraram muitos séculos e
pertencem a uma mistura de raças amalgama de um povo forte na fé.
Eu
assisto todos os dias o sol que nasce nas bandas do Cai-já convidando a todos
para a faina diária, porque uma cidade se faz com trabalho, ética, alegria,
suor e também lágrimas tudo misturado na colaboração de todos é que nascem as
grandes ideias que nortearão os governantes para fazerem sempre mais pela
população local.
Eu
sou o bimbalhar dos sinos da secular Matriz lembrando que esta Cidade nasceu
sob os auspícios dos ensinamentos de Cristo e que pelo sentimento da
fraternidade deve estar irmanado pela busca de um ambiente de harmonia e de paz
para que todos possam, na medida de sua capacidade, trabalhar e torná-la mais
próspera e hospitaleira.
Foi
eu que emprestei a minha “pena” para que o Cons. Antônio Pereira Rebouças,
secretário da Junta de Resistência, instalada na Heroica Cachoeira, lavrasse a
ata da memorável sessão em que foram traçadas as estratégias e providências
para libertar a Bahia do tacão do General Madeira de Melo, pois o suor, o
sangue e as lágrimas derramados, por nossos irmãos, pelo sonho de
liberdade, representavam o verdadeiro
sentimento de brasilidade de um povo cansado do domínio português.
Eu
sou o conhecimento de todos os que sabem e não se negam a ensinar. Cabedal que deve ser socializado e enriquecer a todos
especialmente os mais jovens. Pois, essa é a bagagem capaz de melhorar a vida
dos que tenham mais e melhores saberes e que de forma positiva possam colaborar
com a hora presente, pois, sem a
capacitação dos mais jovens, em especial, poderemos perder esse momento impar de
trabalho e novas oportunidades de emprego e renda e trancar a marcha do nosso
desenvolvimento.
Eu
sou o manguezal que circunda a cidade e se espraia por outras regiões do
município proporcionado sustento para muitos, dádiva da natureza, berçário de
vida, verdadeiro supermercado da natureza e que por isso mesmo, trouxe para
nossa cidade o título de “capital do desenvolvimento ambiental”.
Eu
sou aquele careta que teima em ser autêntico porque foi essa autenticidade na
alegria e no modo de divertir e divertir-se que
transformou nosso Carnaval em “Bem Imaterial da Bahia”. Eu teimo em
perguntar se você me conhece porque preciso por um momento, no anonimato da
festa, vir a ser outro com múltiplos disfarces: de monstro, mendigo, escravo,
diabo ou até rei da folia.
Eu
estou nas partituras dos dobrados de Heráclio Guerreiro, maviosamente
executados pela Terpsícore, esta eternamente campeã, e pela 2 de Julho, ambas
celeiro de uma tradição que engrandece
nossa história musical pelo potencial individual dos seus membros. Vejo os
nossos grandes músicos do passado e do presente, cada um na sua especialidade,
enchendo nossos corações de uma música muito rica e bem executada.
Eu
vi quando o poeta e historiador Osvaldo Sá escreveu os três volumes das
Historias Menores de Maragogipe e recomendou para que tivéssemos cuidado na
transmissão às novas gerações dos fatos ali narrados, cuidando em manter a
veracidade dos mesmos, evitando invencionices porque senão nossa “história tão
rica e bela” pode se tornar folclore. Eu estou ainda na pena de outros poetas
maragogipanos como Durval de Morais, Raul Guerreiro, Flávio de Souza Lima, este
ultimo autor do nosso hino oficial todos
de muita inspiração para cantar e engrandecer a nossa terra.
Assim,
minha querida Maragogipe, terra que me serviu de berço e há de me servir de
túmulo, presto-te este depoimento e espero que as minhas palavras encontrem eco
na mente e no coração dos teus filhos, pois o meu cantar tem apenas a
preocupação de tornar-te rainha.
Viva
8 de Maio!
Viva
Maragogipe!
Benedito
Jorge Carneiro de Carvalho