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Panorâmica de Maragogipe

sábado, 30 de setembro de 2023

 

GREVES EM MARAGOGIPE

 

Em 1919 ocorreu uma greve geral em todas as fábricas de charutos de Maragogipe por melhores salários. Após uns dias de paralização foi concedido um aumento de 10% a todos os operários e a greve teve fim.

Em 1925 ocorreu a segunda greve na Suerdieck motivada pela demissão de três operárias. Na época a empresa decidiu que as operárias que dessem mais de 20% de refugos  seriam dispensadas e isso ocorreu com três demitidas. Protestando  contra as  demissões os dirigentes sindicais criaram uma confusão na entrada da fábrica facilitando a entrada de estranhos no recinto de trabalho. Entre os invasores alguns portavam pequenos embrulhos dizendo que tinham bananas de dinamite e que iam explodir a fábrica. Pronto! tumulto generalizado e os operários deixaram o recinto e entraram em greve.

A paralização só terminou alguns dias depois com a chegada de forças policiais enviadas pelo Governador  do Estado, Dr. Gois Calmon (1924-1928). Com o término da confusão o Delegado de Polícia da época Sr. Anísio Malaquias instaurou o inquérito policial que nunca teve fim mesmo tendo sidos identificados os responsáveis pela confusão: Verdival Pitanga, Bartolomeu Brito Souza e Décio Quadros este tinha sido demito da empresa dias antes.

Fonte: Suerdieck Epopéia do Gigante,

 de Ubaldo Marques Porto Filho

 

Para você que admira a história de Maragogipe recomendamos a leitura desse livro. Por certo será uma leitura produtiva, pois  você vai conhecer todas as dificuldades e triunfos de Suerdieck, além de aprender mais sobre a história da fabricação de charutos”

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

QUANDO A FÉ FALA MAIS ALTO

 

ROMARIA DOS OPERÁRIOS DA FÁBRICA SUERDIECK - 11 DE MAIO DE 1970

A Suerdieck começou em Maragogipe como barracão de escolha de fumo e somente alguns anos depois passou a produzir charutos tendo evoluído para se tornar a maior empresa do ramo no nordeste brasileiro, com filiais em vários estados e até na Europa. 

Desde a sua criação que a Suerdieck instituiu o sistema de pagamento semanal aos seus empregados. Então, no momento em que começaram as dificuldades financeiras do grupo a partir dos anos 60 e que evoluíram e nos anos 70 já haviam se transformado em um grande problema toda a economia local sofreu os efeitos da crise. No início dos  anos 70 a situação se tornou gravíssima e a Suerdieck chegou a ficar quatorze semana sem pagar o salário dos trabalhadores. Essa situação gerou uma crise sem precedentes na economia de Maragogipe e consequentemente em toda região.

Em meio à crise que se abateu sobre a Suerdieck os trabalhadores foram os maiores baluartes para o soerguimento da mesma uma vez que mesmo sem receber o seu salário por período tão longo continuaram trabalhando sustentados na esperança de um dia receber, como de fato ocorreu.

Mas, uma coisa chamou a atenção da imprensa da época. Apelando para a fé do povo maragogipano, o Pe. Florisvaldo organizou uma romaria para implorar a proteção do Padroeiro São Bartolomeu para que a cidade saísse daquela situação. Exatamente no dia 11 de junho de 1970 a cidade se movimentou e uma enorme procissão saiu da matriz com destino à capela do Cruzeiro.

A histórica manifestação religiosa foi um espetáculo de rara beleza e demonstração de fé que jamais se repetiu em Maragogipe demonstrando a confiança dos moradores em seu Protetor. Portando lamparina com velas acessas a procissão subiu a ladeira do Cruzeiro e os que ficaram no adro da Matriz puderam sentir a vibração daquelas “almas reunidas“ implorando ao seu Padroeiro solução para tão grave situação. Certo é que, por muitos dias não se falou em outro evento a não ser o espetáculo daquela noite memorável. Pois bem, passados alguns dias como ocorre sempre nesses casos, como um passe de mágica, chega a notícia de que o Governo Federal havia concedido um empréstimo à Suerdieck capaz de saldar seus compromissos, incluindo os salários atrasados dos operários. Hoje, passados tantos anos, perguntamos a fé tem ou não tem força? Responda aí para meu melhor entendimento foi milagre?

Abílio Ubiratan

 


Fonte: ARQUIVO. Maragogipe, 27 de maio de 1970. Nº 201, p. 1

 

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

CONVERSAS DE HOMENS

 

NOS SENADOS DA CIDADE SAI DE TUDO.

 

Nossa cidade tem uma tradição que já vem de longe que é manter pontos de encontro de amigos em diversos bairros da cidade. O mais antigo deles era no fundo da Igreja de São Bartolomeu que inexplicavelmente desapareceu. Existe ainda no largo do Porto das Vagas, no Jardim do Areal e o mais animado, talvez, seja o do Cais do Cai-já. Este é comandado pelo valoroso marinheiro  Aníbal  que além de assíduo frequentador dá ritmo aos encontros toda tarde sob a brisa amena que vem da maré. Aí os papos correm à vontade. Fala-se de tudo um pouco.

Nesse ambiente camaradeiro e descontraído dia desse o Aníbal  saiu-se com um causo que com respeito aos autores vou ter que contar  ocultando os nomes, mesmo porque me parece que é coisa verídica e pode ajudar outros em situação idêntica.

Há muito tempo os idosos de nossa cidade tem um grupo, patrocinado pela PMM com acompanhamento de profissional competente, para pratica de atividade física lá no largo do Cais. Atento a tudo o nosso Aníbal sabe os idosos que frequentam e aqueles que faltam com regularidade.

Entre os faltosos um chamou a atenção do “fiscal” e ao encontrar o amigo ele foi de pronto perguntando: “que foi que houve que você nunca mais foi fazer exercício lá no Cai-já?” ao que o amigo respondeu: “ você não sabe da maior: descobri uma erva que está me ajudando a fazer exercício em Casa.”  “Mando a patroa fazer um chá forte e tomamos. Dez minutos depois estamos prontos e é só alegria”. Aníbal mirou o amigou de cima a baixo e na bucha disse: “ me engana que eu gosto”. “Eu acho que você está é se enchendo de azulzinho”. “Você é que sabe o que é melhor”. Dito isso foi se saindo e deu de frente com Boga que ainda ouviu um pedaço da conversa e o Boga sem perder  tempo confirmou que existe sim uma erva milagrosa que acorda defunto de muitos anos mesmo porque ele já usou e garante que deu resultado.

Pois é, nos senados da cidade sai muita estória que as mais das vezes não dá para duvidar.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

ANOTAÇÕES HISTÓRICAS - CIDADE DAS PALMEIRAS

 

Maragogipe

 

Anotações históricas

 

 

Os historiadores e estudiosos não se cansam de afirmar que a origem do topônimo Maragogipe está nos etmos tupi-guarani MARAG+GYP e para não fugir à regra não existe consenso quanto ao seu significado. Para uns traduz-se por “água ou rio dos mosquitos” e enquanto Teodoro Sampaio, estudioso do assunto, diz que a tradução acertada é “rio dos maracujás” do que discordamos, pois não há evidências de que aqui tenha havido grandes plantações dessa cultura. Todavia, nas marés de quarto, em razão da extensa área de manguezal, a população sofre com a presença de mosquitos.

 

Origem do município

 

As terras onde se situa o município de Maragogipe foi parte da sesmaria de Peroaçu doada a D. Álvaro da Costa, filho do 2º Governador Duarte da Costa, em 16 de Janeiro de 1557, com confirmação da doação em 1562. Sob o comando de Álvaro da Costa a sesmaria não progrediu e por volta de 1640, outro português de nome Bartolomeu Gato adquiriu a mesma junto Governo de Portugal e nela se estabeleceu com o propósito de construir engenhos de açúcar na região. Uma das primeiras providências do novo colonizador foi trocar o padroeiro do lugar que era São Gonçalo do Amarantes por São Bartolomeu, santo da devoção dele e que lhe emprestava o nome. Feita troca do Padroeiro uma grande igreja foi construída, segundo o IPHAN entre 1643/1658. Sendo que após a inauguração da igreja, conforme norma eclesiástica que só permitia a criação de freguesia em locais nos quais já houvesse uma Igreja, foi criada a Freguesia de São Bartolomeu de Maragogipe, em 1679, desmembrada da Freguesia de N.S. da Ajuda de Jaguaripe.

Bartolomeu Gato deixou Maragogipe em definitivo no ano de 1658, cumprindo promessa feita à sua esposa em razão da perda de seu único filho e antes de partir passou por testamento suas terras de Maragogipe para a Igreja Matriz de São Bartolomeu.

 

Evolução histórica

 

Possuindo bom porto e boa localização, com o progresso dos engenhos de açúcar, Maragogipe progrediu rapidamente tornando-se um ponto de convergência de moradores de várias localidades do recôncavo, pois sua localização privilegiada proporcionava fácil escoamento dos produtos para a capital da província e outras localidades da região.

 

Maragogipe   passou por vários ciclos de desenvolvimento. No principio foram os engenhos de açúcar, época do ciclo da cana de açúcar móvel econômico que interessava a Portugal nas suas relações econômicas com outros países da Europa. Depois veio o ciclo do fumo que aqui era produzido e exportado. Já em meados do sec. XIX  se desenvolveu muito bem a cultura do café nas terras maragogipanas e  em razão disso Maragogipe foi agraciado com uma condecoração na Exposição de Filadélfia, nos EE.UU., em 1883. Após fase do café veio a fase da industrialização do fumo com a criação das fábricas de charutos Danneman e Suerdieck que funcionaram a primeira até a metade (1949) e a outra até o final do século passado(1992). E falando da história da fase da industrialização do fumo não podemos deixar de destacar que a primeira fábrica de charutos em Maragogipe foi a de Manoel Vieira de Melo, fundada em 1852 e que funcionou em sede própria no Largo da Matriz, no prédio que atualmente abriga o Fórum Prof. Raul Chaves, destacada figura dos meios forenses.

 

 

A primeira igreja

 

A primeira igreja de Maragogipe foi feita de pau a pique e coberta de palhas, isso tão logo os primeiros colonizadores aqui se estabeleceram na época da doação da Sesmaria de Peroacu a Álvaro da Costa, filho do 2° Governador Geral Duarte da Costa. Relatos da época apontam que o padroeiro instalado na modesta capela foi São Gonçalo do Amarantes, substituído depois que Bartolomeu Gato adquiriu a Sesmaria, em 1640,  e nela se instalou com sua família e serviçais, tendo prometido a construção de uma bela igreja se o padroeiro fosse mudado para São Bartolomeu, santo que lhe emprestava o nome.

Até se efetuar a troca  do Padroeiro, surgiu muito falatório e muita estória,   motivando consequentemente o aparecimento das lendas. Quem nunca ouviu falar no aparecimento de uma imagem em um descampado da área onde está atualmente a matriz? Pois é, e aquela outra do aparecimento de um homem moreno, alto, cabelos cacheados lhe caindo aos ombros, feições delicadas, corpo rubro como que banhado em sangue, sobre uma pedra,  tendo na mão direita um facão, visão contada pelos escravos quando iam para o eito da cana? Foram essas lendas que reforçaram o desejo de mudança de padroeiro por parte do novo proprietário Bartolomeu Gato e o seu compromisso de para ele construir uma grande e bela igreja, empreitada iniciada em 1643 e terminada em 1658, segundo o IPHAN (vide Termo de Tombamento).

Certo é que o padroeiro foi trocado e a igreja com muito trabalho e muita luta foi construída para alegria dos maragogipanos, reinando nela há mais de trezentos anos o querido e venerado São Bartolomeu, nosso querido padroeiro.

 

 

terça-feira, 12 de setembro de 2023

O DIA EM QUE A INDIA SE APAIXONOU

 



O dia em que a Índia Catarina se apaixonou pelo cantor de seresta e fugiu com o fotógrafo.

 

Para os jovens Tatay e JR de Major.

 

Outro dia, por acaso, encontrei dois jovens amigos parados papeando na Rua dos Quebrados. E deu pra perceber, pela leitura labial, que estavam falando de um causo da época do Chuveirinho e então aproveito para  contar.

Como é do conhecimento de muitos existia em nossa cidade um bar e restaurante que era da moda: o Chuveirinho. Fins de semana e época de festas lá se realizavam grandes bailes com músicas de seresta, lembrando memoráveis bailes da AAM  e Rádio Clube. 

Pois bem, numa terça feira da “Festa do Padroeiro”, dois amigos saíram para curtir e ao passarem pelo hotel do beco da mangueira deram de cara com um bate boca entre um hóspede e sua esposa. Tinham parado o carro pra tomar uma gelada e terminaram assistindo uma verdadeira fria, considerando que a situação estava muito exaltada e até com risco de agressão física. Foi quando no intuito de acalmar os ânimos um dos amigos pegou a morena e colocou no carro avisando ao esposo que ia dar um volta enquanto ele se acalmava. Terminaram no chuveirinho.

Como de costume o Chuveirinho estava lotado. Sentaram em um canto e começaram a bebericar uma “gelada”. Lá pras tantas o amigo que trouxe a índia tirou-a pra dançar. O salão estava lotado de pares dançando ao som de músicas de seresta. O cantor, famoso na cidade, no esplendor da idade, charmoso  por natureza, cavanhaque a lá artista mexicano, voz romântica e bem semelhante aos grandes cantores de sucesso, tornava o ambiente dengoso para os corações carentes. Num intervalo o cantor deixou o palco e veio para o meio do salão. A índia Catarina não tirava os olhos do cantor e no momento em que, por acaso, os olhares se cruzaram deu-se um like, como se diz hoje, e com um sorriso maroto o cantor se aproximou daquela cabocla linda, corpo escultural, cabelos lisos e sedosos caídos até as nadegas emolduradas. Uma beleza de fechar o comércio! Logo entabularam um papo. Daí pra frente o baile seguiu e o romântico cantor não conseguia tirar a figura da india  da mente. Para sossegar o coração, aproveitou e disse que estava com uma indisposição e que precisaria deixar o local ficando a croner em seu lugar. Deixou o palco e foi direto para a mesa em que vira a índia Catarina e não a encontrou. Rodou por todos os cantos e nada. Sentou-se em um canto e desabafou ao seu amigo de infância Artur o motivo de sua aflição. Chegou a pensar que estava sonhando. Mas, um outro amigo chegou e com ar de espanto disse: “Cara, estou pasmo: “o fotógrafo passou por mim na esquina de Baú levando abraçado uma índia que mais parecia uma miss”. “Vixe Maria, que máquina!”. O Cantor de Seresta, ao ouvir essas palavras, tirou o lenço do bolso, sem dizer palavra, enxugou uma lágrima que corria pela face e como consolo pediu uma dose de conhaque domeq  voltando triste para o palco. O baile seguiu sem o mesmo entusiasmo. 

Pois é, a vida tem dessas coisas!

 Abilio Ubiratan