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Panorâmica de Maragogipe

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

OS SINOS DA MATRIZ

 



No  alto da vetusta Igreja Matriz de São Bartolomeu duas torres se sobressaem. Em cada uma delas um terno de sinos, um grande, um médio  e um pequeno. Forjados em bronze e estanho,  emitem sons que viajam grandes distâncias e  no passado, não muito distante, eram esses sinos o grande anunciador do que acontecia na cidade. Havia um toque para cada ocasião, desde chamadas para as missas, aviso de falecimento, anuncio de horas, etc.

A função de sineiro, sem explicação, desapareceu em nossa cidade. Hoje só nos resta lembrar do tempo dos “grandes” sineiros. No meu imaginário ainda me lembro de Candinho “Paraguaçu”, Julio “come de pão”,  Afumaçado   e outros mais recentemente, mas, nenhum se destacou tanto quanto Candinho.  Acredito que este morava no alto da torre, pois, nunca perdia a hora de tocar os sinos da velha matriz, fosse em que ocasião fosse.  Era o Candinho, assim como os outros, chegado a uma “pinga” e constantemente estava encharcado dela, mas os sinos da matriz em suas mãos tornavam as celebrações  mais festivas e porque não dizer mais bonitas.

A meninada conhecia como ninguém aquele que com mãos de maestro fazia os sinos da matriz “conversarem com os anjos” nos momentos de festa, principalmente na festa do nosso Padroeiro – São Bartolomeu. O sineiro era tão conhecido que qualquer menino ao avistá-lo berrava: Paraguaçu! E ele de imediato emitia um som  gutural semelhante ao apito do navio Paraguaçu,  navio que fazia a linha naquele tempo de Salvador-Cachoeira e vice-versa,  com parada obrigatório na nossa antiga ponte de madeira.

Tudo estou a recordar porque falta-nos um sineiro que possa fazer os velhos sinos da matriz bimbalharem nos momentos festivos. Hoje a procissão do Padroeiro  São Bartolomeu  deixa a matriz e a ela retorna e os sinos não emitem uma única badalada. Por outro lado, é um verdadeiro inferno a quantidade de foguetes que são queimados, com risco para os que se acotovelam no adro da Matriz, querendo ver de perto seu patrono deixar a sua casa para percorrer becos, ruas e ladeiras da nossa Maragogipe, ou à igreja  retornar, depois de a todos ouvir, confortar e abençoar num grande espetáculo de fé e religiosidade!

Confesso que tudo isso estou a escrever porque tenho uma verdadeira afeição pelos sinos da Matriz e não entendo como podem eles viverem em silêncio ou tocados sem vibração, já que foram concebidos para fazerem parte da nossa vida, na alegria ou na tristeza, mas presentes sempre. Ao concluir lembro que é preciso no momento, já que foram restaurados na reforma da Matriz, que voltem solenemente a encher as nossas vidas de alegria com seu bimbalhar festivo. Por último, lembro as palavras do grande escritor Ernest Hemingway: “A morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”.

Por ABILIO UBIRATAN

Em agosto/2009.