No alto da vetusta
Igreja Matriz de São Bartolomeu duas torres se sobressaem. Em cada uma delas um
terno de sinos, um grande, um médio e um
pequeno. Forjados em bronze e estanho, emitem sons que viajam grandes distâncias e no passado, não muito distante, eram esses
sinos o grande anunciador do que acontecia na cidade. Havia um toque para cada
ocasião, desde chamadas para as missas, aviso de falecimento, anuncio de horas,
etc.
A função de sineiro, sem explicação, desapareceu em nossa
cidade. Hoje só nos resta lembrar do tempo dos “grandes” sineiros. No meu
imaginário ainda me lembro de Candinho “Paraguaçu”, Julio “come de pão”, Afumaçado
e outros mais recentemente, mas, nenhum
se destacou tanto quanto Candinho. Acredito
que este morava no alto da torre, pois, nunca perdia a hora de tocar os sinos
da velha matriz, fosse em que ocasião fosse.
Era o Candinho, assim como os outros, chegado a uma “pinga” e
constantemente estava encharcado dela, mas os sinos da matriz em suas mãos tornavam
as celebrações mais festivas e porque
não dizer mais bonitas.
A meninada conhecia como ninguém aquele que com mãos de
maestro fazia os sinos da matriz “conversarem com os anjos” nos momentos de
festa, principalmente na festa do nosso Padroeiro – São Bartolomeu. O sineiro
era tão conhecido que qualquer menino ao avistá-lo berrava: Paraguaçu! E ele de
imediato emitia um som gutural
semelhante ao apito do navio Paraguaçu, navio
que fazia a linha naquele tempo de Salvador-Cachoeira e vice-versa, com parada obrigatório na nossa antiga ponte
de madeira.
Tudo estou a recordar porque falta-nos um sineiro que possa
fazer os velhos sinos da matriz bimbalharem nos momentos festivos. Hoje a
procissão do Padroeiro São Bartolomeu deixa a matriz e a ela retorna e os sinos não
emitem uma única badalada. Por outro lado, é um verdadeiro inferno a quantidade
de foguetes que são queimados, com risco para os que se acotovelam no adro da
Matriz, querendo ver de perto seu patrono deixar a sua casa para percorrer becos,
ruas e ladeiras da nossa Maragogipe, ou à igreja retornar, depois de a todos ouvir, confortar e
abençoar num grande espetáculo de fé e religiosidade!
Confesso que tudo isso estou a escrever porque tenho uma
verdadeira afeição pelos sinos da Matriz e não entendo como podem eles viverem
em silêncio ou tocados sem vibração, já que foram concebidos para fazerem parte
da nossa vida, na alegria ou na tristeza, mas presentes sempre. Ao concluir
lembro que é preciso no momento, já que foram restaurados na reforma da Matriz,
que voltem solenemente a encher as nossas vidas de alegria com seu bimbalhar
festivo. Por último, lembro as palavras do grande escritor Ernest
Hemingway: “A morte de qualquer homem me diminui, porque eu
sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos
dobram, eles dobram por ti”.
Por ABILIO UBIRATAN
Em agosto/2009.