Sepultamentos ao redor
das igrejas
Por muito tempo os
sepultamentos eram feitos ao redor da igreja ou capela da região, costume
modificado somente a partir da epidemia de cólera entre os anos 1853 e
1859. Aqui entre nós esse costume não
era diferente, tanto que no local onde fica o coreto da Matriz e a lateral em
frente à sede da Filarmônica 2 de Julho já foram locais dos sepultamentos da
antiga Vila da Freguesia de São Bartolomeu de Maragogipe enquanto que os
endinheirados e poderosos da época eram sepultados no interior da igreja,
pois pagavam indulgências para tanto, mesmo que tivessem vivido uma vida
desregrada, buscando ficar perto de Deus e obter perdão para suas culpas no fim da jornada. Na paróquia de São Bartolomeu
na época dos sepultamentos em torno da Igreja Matriz e no seu interior duas irmandades se
destacavam nos serviços funerários: a Irmandade das Almas e a Irmandade do
SS. Sacramento e em razão disso a torre de sinos do lado sul era explorada
pela Irmandade das Almas enquanto que a torre do lado norte era da responsabilidade
da Irmandade do Santíssimo na cobrança dos dobles de finados. Era essa a
principal fonte de rendas das citadas irmandades até que foi cedido o
corredor do lado norte para que ai a irmandade do Santíssimo instalar carneiras de ossos já
que no lado sul a irmandade das almas já tinha os seus no corredor lateral. A partir do momento em que as
autoridades da saúde pública despertaram para os riscos da prática de se
fazer sepultamentos no interior das igrejas pelo alto grau de miasmas que
advinham de tal prática, inclusive deixando o recinto com um cheiro
desagradável, mais e mais a campanha se intensificou até que a Irmandade da
Santa Casa de Misericórdia, recém fundada, tomou a iniciativa de providenciar
um local afastado do centro da cidade para a construção do cemitério. A
campanha para a concretização do cemitério demorou muitos anos, mesmo porque,
como é comum em quase tudo em nossa cidade, havia muita controvérsia entre os
que apoiavam a empreitada e os que eram contra, apesar dos riscos já mencionados,
levando em conta ainda que o local escolhido ficava no “Berra Boi” depois do
“Porto Grande” e para dificultar mais ainda havia um passadiço de madeira
para se alcançar a outra margem. A propósito desta dificuldade D. Pedro II,
em 1859, quando visitou Maragogipe, fez uma doação para construção da Ponte
que liga o Porto Grande ao Porto das Vagas ou das Vacas e a Imperatriz Tereza
Cristina doou também uma quantia para a construção da cisterna que recebeu o
nome da Imperatriz Tereza Cristina e atualmente tem uma lavanderia ao lado
que recebe o nome “Mãe Baia”, localizadas ao pé da ladeira do cemitério. Apesar de contar com a
contribuição do Imperador Pedro II o cemitério de Maragogipe ainda demorou um
pouco para ser construído no local escolhido. Foram tantos os desencontros
vividos entre os membros da comissão encarregada da construção que um aviso pregado ao pé
da ladeira terminou batizando a rua que existe entre o mangue e o terreno do
cemitério de “Bairro da Comissão”. Vencidos os obstáculos, os
desentendimentos e a burocracia finalmente o cemitério de Maragogipe foi
inaugurado em 18/11/1862 sob a responsabilidade da Irmandade da Santa Casa de
Misericórdia Maragogipe. Por Abílio Ubiratan |
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