Registro aqui mais um caso dos muitos que ainda me lembro contado por meu avô. Comente e compartilhe se gostar para que possamos contar outros.
Leia a seguir:
MANDA QUEM PODE E...
Antes do advento da República em 1889 as vilas e os municípios eram administrados pelos Presidentes do Conselho Municipal e depois pelos Intendentes até 1930 época em que houve nova mudança na política e as cidades interioranas passaram a ser governadas por interventores nomeados pelo governo central em razão das mudanças promovidas pela Revolução de 1930.
No período em que a cidade era governada
pelos intendentes muita se destacaram e outros nem tanto, pois passaram em
branco à frente da comuna uma vez que governavam não para a comunidade, mas sim
para os correligionários. Foi em meio aos intendentes que surgiu um que sem
alto nível de cultura mudou os rumos da política local, pois, sendo pessoa
simples se ligava aos mais necessitados, como se diz hoje, e no seio dessa gente
humilde fez sua liderança.
O político João Primo Guerreiro
notabilizou-se por suas atitudes e conquistou a simpatia do povo o que
desagradava a uma parcela da população que via mais e mais crescer o prestígio
daquele homem. Por exemplo, quando houve o acidente da explosão do navio “2 de
Julho” ele transformou sua residência em enfermaria para atender os feridos;
quando houve o grande incêndio das casas de palhas, no antigo Largo do Dique,
atual Praça Sebastião Pinho, no Cai-já, foi ele quem empreitou a reconstrução
das moradias sinistradas graças ao auxílio dado pelo senhor Sebastião Pinho,
sem esquecer que foi ele quem empreitou o serviço de água canalizada em nossa
cidade e instalou os cinco primeiros chafarizes na cidade. Assim, era o
Guerreiro que angariava a simpatia da maioria da população e isso não agradava
aos seus adversários políticos.
Pois bem, para completar a inveja
dos seus adversários políticos tinha o João Guerreiro, nessa época, o apoio do
Deputado Ubaldino de Assis, da vizinha cidade de Cachoeira, seu conterrâneo,
que lhe emprestada apoio na Câmara alta e junto ao Governo do Estado. Todavia,
seus adversários, por esses cacoetes da política, desde muito tempo,
conseguiram nomear um sargento de polícia como delegado local com o propósito
de, tão somente, perseguir o Intendente João Primo Guerrerio como ainda
perseguir seus seguidores. Basta dizer que a cidade vivia um verdadeiro “Deus
nos acuda” com prisões arbitrárias e perseguições sem fim. Então, cansado de
tantos desatinos causados na cidade, resolveu o Intendende mandar um telegrama
para o Dep. Ubaldino contando seus infortúnios. Conta-se na cidade que o deputado ao tomar conhecimento dos
fatos marcou dia e hora para ao passar por Maragogipe, com destino a sua
Cachoeira, estivessem na velha ponte de madeira o Chefe de Polícia com o seu
destacamento e o seu correligionário João Guerreiro.
No dia aprazado, no horário
marcado atracou na velha ponte o navio da carreira e todos os que estavam presentes
puderam assistir um espetáculo próprio da política interiorana. O deputado
debruçado na cabine de comando do navio gritou a pleno pulmões:
-- Senhor Delegado, respeite o Chefe Político de Maragogipe!
Ao que o Delegado ato contínuo,
respondeu:
--Sim, Senhor!
Em meio à galhofa que fizeram os
presentes o chefe de polícia retirou-se cabisbaixo e o prestigio do velho
Guerreiro mais aumento e noutra coisa não se falou na cidade por muito tempo ao
ponto de passar para o anedotário local.
Como desfecho da situação o Chefe
de polícia pediu demissão do cargo e depois disso a paz passou a reinar na
cidade por um bom espaço de tempo.
A política interiorana sempre foi
assim, dependo das circunstancias: “manda quem pode e obedece quem tem juízo”.
Abílio Ubiratan
SET/2022