RECORDAÇÕES
E LEMBRANÇAS DE ANTIGOS CARNAVAIS NA CIDADE DAS PALMEIRAS
Segundo o Jornal Nova Era no ano
de 1887 a Filarmônica Terpsycore, fundada em 1880, criou um bloco de
fantasiados e mascarados denominado de Filhos da Terpsycore e aí teve inicio
oficialmente o Carnaval de Maragogipe, tendo em vista que até aquele ano, na
época do carnaval, em Maragogipe se realizava o entrudo. Com base no registro
acima podemos dizer que o Carnaval de Maragogipe tem pouco mais de cem anos.
Dessa época são memoráveis os blocos que se denominavam cordões sendo os mais
destacados um cordão formado só de mulheres que exerciam a profissão mais
antiga do mundo. Também da mesma ocasião era o Bloco do Silêncio que deu origem
ao Bloco das Almas, este existente até hoje e que mantém a tradição de se
organizar na porta do cemitério e depois percorrer as principais ruas da cidade
que atualmente ocorre na noite de sexta-feira e que no inicio acontecia zero
hora de sábado de carnaval. Merece destaque também um clube que fez grande sucesso
na cidade que foi o Club dos Alemães e que veio a se transformar e evoluir para
Radio Clube Maragogipano. Realizando grandes bailes a fantasias na década de
1950 tivemos ainda a Associação Atlética Maragogipana todos realizando bailes a
fantasias para seus associados.
Nas ruas da cidade nos dias de
Carnaval desfilaram com grande animação inúmeros blocos e cordões a exemplo dos
blocos dos Nagôs e dos Assustados. Ao lado dos blocos também desfilaram com
grande sucesso os ternos com destaque para: Marujas, Espanholas, Turcas e Fauna
e mais os ranchos do Macacão sempre com a presença de mascarados fantasiados,
pierrôs, colombinas. Nessa época as filarmônicas realizavam passeatas pelas
ruas da cidade promovendo muita musica e alegria.
Um velho costume de antigos
carnavais na Cidade era o de grupo de caretas e mascarados entrando de casa em
casa nos dias de carnaval numa demonstração de que Maragogipe sempre foi uma
cidade ordeira e hospitaleira.
No inicio da década de 1950 com a
Associação Atlética e o Radio Club realizando bailes à fantasia para seus
associados o carnaval de rua na cidade perdeu animação só retornando em 1955
quando foi criado o Trio Oriente de Dica, Quinande e Cândido que trouxe uma
dinâmica nova para o nosso carnaval.
Com o “O Trio de Dica” o carnaval
de rua na cidade ganhou movimentação e animação. Mas, quando o trio passou a
sair para tocar em outras cidades novamente o nosso carnaval perdeu força,
apesar de manter a velha tradição dos mascarados e das fantasias artesanais que
levaram o nosso carnaval a ser tombado como bem imaterial. A propósito da saída
do trio para tocar em outras cidades ocorria uma coisa singular em Maragogipe.
Na quarta-feira quando o trio retornava os foliões locais esperavam o trio na
entrada da cidade e então faziam um novo carnaval na quarta-feira de cinzas.
Alegando falta de recursos para
manutenção do carnaval alguns Prefeitos tentaram mudar o carnaval de
Maragogipe. Assim, na década de 1970 houve a primeira tentativa com a
Prefeitura criando um “trio Municipal” não deu certo, pois o população além de
não prestigiar o trio criado ainda o apelidou de “me raspe” e o mesmo morreu no
nascedouro. Na década de 1990 nova tentativa foi feita alegando custo alto para
a manutenção da festa, propondo-se mudar o nosso carnaval para a época das
micaretas das outras cidades também não deu certo. Uma tentativa mais ousada
ocorreu na entra do novo milênio e em 2002 a PMM anunciou que não haveria
Carnaval e sim micareta e a grande surpresa foi que a população tomou a si e
nos dias dom carnaval Maragogipe realizou seu carnaval tradicional, motivando o
sepultamento da ideia em definitivo.
Após todos os altos e baixos o
Carnaval de Maragogipe permaneceu firme e forte e finalmente em 2009 foi
tombado pelo IPAC como patrimônio Imaterial da Bahia, vale ressaltar que depois
dos estudos realizados para a comprovação da originalidade, alegria e tradição
do Carnaval de Maragogipe.
No momento esperamos que a
população uma vez mais mostre seu jeito de hospitaleira e participe dessa festa com animação deixando
claro que é uma gente que sabe “conservar
a tradição dos mascarados, pelas formas artesanais de produzir fantasias, de
patrocinar o riso e promover a representação da vida cotidiana”.
No mais é esperar o Carnaval
chegar para ser feliz no Carnaval da Cidade das Palmeiras.
Abílio Ubiratan
Jan/2024