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Panorâmica de Maragogipe

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

ESPERANDO O CARNAVAL I

 

Ilustração foto internet

O GRUPO DAS ALMAS DE MARAGOGIPE

 

Desde tempos imemoriais o homem busca uma explicação para a morte. Nessa busca nunca se dá por satisfeito e aí então, procura de alguma forma achar um jeito de conformação, pois tem certeza de que está diante de um fato irreversível.

 

Temos aqueles que se conformam com sua condição de mortal e por outro lado temos também os que até debocham dessa situação. É dentro desse grupo que estão os que até nos folguedos carnavalescos brincam com a situação.

 

Brasil a fora existem manifestações folclóricas que mostram essa nossa observação. No carnaval existem pessoas que dão preferência para as caretas que são réplicas de caveiras, de bruxas, de monstros e outros personagens que de alguma forma estão ligados ao desconhecido, ao sobrenatural. O bloco das almas de Maragogipe tem esse propósito. Sempre foi um grupo que busca mexer com o sentimento de medo de alguns a cerca da morte e de entes sobrenaturais. Não é que pretendam desmerecê-la. Não, é uma forma de demonstrar uma aceitação daquilo que está reservado para todos os seres vivos.

 

O grupo das almas propositadamente reúne seus membros e organiza o corteja na porta do cemitério local para percorrer a cidade quando boa parte dos moradores  já está dormindo. Não resta dúvidas que essa atitude traz um pouco mais de receio entre as crianças, especialmente.

 

A indumentária é constituída basicamente de um pano branco que cobre o folião e que tem apenas dois orifícios para os olhos. No  percurso não é permitido conversar nem falar, apenas gemer e soltar uis, enquanto uma matraca e o bombo vão enchendo o espaço com  seus sons específicos.

 

Em meio aos figurantes, nunca deve faltar, um personagem que tenha traje diferente e que coberto de trapos, esse sim, deve ter como mascara uma figura que cause medo nas pessoas pelas suas feições de ente sobrenatural. Na maioria das vezes esse careta tem os trajes que habita a mente da maioria das pessoas sobre a figura do diabo.

 

Na época que em Maragogipe existiam os clubes sociais Associação Atlética e Radio Club, o grupo das almas fazia uma visita a estes clubes que já estavam realizando o baile de abertura do carnaval, no sábado de carnaval, logo depois de percorrer toda a cidade e retornar para a praça principal.  Assim é que se ficava conhecendo os componentes do grupo das almas, pois nessa ocasião descobriam-se e recebiam os aplausos dos presentes.

 

Abílio Ubiratan

Texto editado em maio/2010.

 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

CARNAVAL ESTÁ ´PRÓXIMO

 MARAGOGIPE

ESSÊNCIA VIVA DE ANTIGOS CARNAVAIS

 O carnaval é a festa popular mais antiga que temos notícia. Historiadores famosos afirmam que o Carnaval ao longo do tempo tem se apropriado das festas populares que existiram desde a antiguidade e que o mesmo tem traços herdados das grandes bacanais do império greco-romano, a exemplo das que eram realizadas com o culto a Dionísio e com o culto a Baco.

A partir da Idade média, época em que o Cristianismo se consolidou e estabeleceu a quaresma, veio como consequência que os dias anteriores à quaresma aproveita-se para extravasar os impulsos da carne, daí a expressão “carne vale” que deu origem ao termo carnaval, sendo que nesse período todos deviam obedecer ao período de 40 dias de jejum e abstinência, anterior à semana da paixão.

No princípio não havia o carnaval nos moldes que temos hoje. Havia o entrudo, ocasião em que as pessoas usavam todo tipo de líquido para molharem umas às outras. Essa brincadeira descambou para o uso de todo tipo de líquido levando as autoridades a proibirem o entrudo. Assim, só nos palácios e nos conventos era permitido o entrudo e o uso dos limões feitos de parafina e que traziam no seu interior água de cheiro.

Foram os colonizadores portugueses que trouxeram o entrudo para o Brasil. E essa brincadeira perdurou por muitos anos até ser proibido pelas autoridades, a pedido da igreja,  em razão dos rumos que a brincadeira tomou como mencionado acima, pois aquela brincadeira de jogar água umas nas outras, saiu do controle a tal ponto que se usava todo tipo de liquido levando o entrudo a ser combatido e depois proibido. Nessa época o entrudo era permitido apenas nos palácios e nos conventos.

Por outro lado na Europa já eram realizadas as grandes festas com fantasias, máscaras, carros alegóricos muito luxo e requinte e os centros mais visíveis dessas celebrações foram  Paris, Nice, Veneza, cujos modelos foram copiados pelo mundo todo onde se realizava carnaval.

O Rio de janeiro foi quem primeiro realizou carnaval no Brasil em meados do séc. XIX. Não com o requinte europeu, mas um carnaval popular com blocos, mascarados e fantasias. Algum tempo depois foram introduzidos os carros alegóricos que evoluíram e deram origem as escolas de sambas como conhecemos hoje.

Em Salvador o carnaval teve início logo depois do Rio de janeiro com a criação dos clubes carnavalescos. Nessa época como o entrudo estava proibido começou a aparecer nas ruas os primeiros mascarados e fantasiados, ai então o comércio de Salvador passou a incentivar o povo e os foliões ganharam as ruas da velha capital e o final dessa história todos conhecemos: o carnaval de rua de Salvador está inscrito no livro dos recordes.

Em nossa cidade com a fundação do Bloco Filhos da Terpsycore, no ano de 1897 segundo o Jornal Nova Era que circulava na cidade, oficialmente deu-se início ao carnaval de Maragogipe, já que antes se fazia o entrudo e do qual não dispomos de dados oficiais.

Nesse meio tempo surgiu a Filarmônica 2 de Julho (1886) que passou  também a realizar bailes de carnaval em sua sede para seus adeptos.

Na década de 1920, foram memoráveis os inúmeros cordões, inclusive de mulheres, que se deleitavam aos prazeres da vida terrena, além da pompa dos clubes: Amigos do silencio e Deutsche Club (clube dos alemães); do bloco dos caipiras; do Rancho do jacaré e do concurso da Filarmônico Dois de Julho, este direcionado à elite maragogipana. 

Na década de 1930, nota-se,  nas ruas de Maragogipe, os cordões das Espanholas, dos Assustados e dos Nagôs; ternos da Esperança, Marujas, Bonecas, Turcas e A Fauna; rancho do Macacão, e mais mascarados, pierrôs, colombinas e, ainda, passeatas promovidas pelas filarmônicas locais.

A presença de inúmeros mascarados, em grupos ou isolados, na década de 1950, entrado nas casas, era muito comum em nossa cidade. Foram registrados nessa época os blocos: Tiro ao Alvo (composto apenas por mulheres), um outro organizado pelo Sr.Vicente Peixoto e o das Garrafas. Também nessa época eram realizados bailes à fantasia, com muito luxo e animação, nas sedes da Filarmônica Dois de Julho, Associação Atlética e Radio Clube.

Foi no ano de 1955 que surgiu o Trio Elétrico Oriente, depois batizado de Maragós, sob o comando de Dica e contando com Quinande e Mestre Candido, dando uma dinâmica nova ao nosso carnaval. Vale salientar ainda a presença  na mesma época do bumba-meu-boi de Sr. Angelo “inspetor” e a burrinha que eram presenças no Carnaval de Maragogipe.

Na cidade existiam dois clubes sociais: o Radio Clube (antigo clube dos alemães) e a Associação Atlética Maragogipana que com Filarmônica Dois de Julho realizavam bailes para seus associados em suas sedes como já mencionamos acima. Então à medida que esses bailes iam ganhando visibilidade o carnaval feito por blocos e cordões perderam sua força, mas as máscaras e fantasias se mantiveram entre a população mais humilde que utilizava de todo tipo de material: roupas usadas, papel, papelão, folhas e outros materiais para não deixar de participar da folia do carnaval nas ruas.

Por fim fica nossa sugestão para que não se perca esse aspecto dos carnavais do passado, pois, é preciso que haja incentivo à população local visando a valorização e fortalecimento da memória cultural e histórica e os aspectos do nosso carnaval sejam preservados e não desapareça a simbologia que, infelizmente, está sofrendo modificações dando margem ao aparecimento de máscaras e fantasias industrializadas que não guardam relação com a tradição do nosso carnaval.

A população de Maragogipe precisa ser estimulada a buscar a memória coletiva em sua história oral ou documental, no sentido de resgatar sua expressão cultural que vem se perdendo no tempo como por exemplo os mandus e as máscaras e fantasias produzidas de forma rigorosamente artesanal que devem merecer um julgamento à parte como forma de valorização dessa forma primitiva de produzir o riso e a alegria tão próprios da gente maragogipana.

O Carnaval de Maragogipe,  Patrimônio Imaterial da Bahia,  preservando as “bandas de sopro” e o uso de máscaras e alegorias artesanais mantém uma tradição que representa sua essência, espontânea e singular, marcas da cultura da cidade.

  • Como colocação final lembramos que no ano em curso, por força da pandemia não tivemos carnaval. E apesar de muitos ainda estarem lastimando, sabemos que isso foi preciso. Então, conhecendo a índole alegre e festeira de nossa gente afirmamos que nosso carnaval não morreu. Fizemos uma parada para juntar forças e no próximo ano voltarmos com força renovada. E, quando o carnaval de 2022 chegar a ordem é: pegue sua alegria e vista uma fantasia para em Maragogipe brincar o maior Carnaval do interior porque “Maragogipe ainda conserva a tradição dos mascarados, pelas formas artesanais de produzir fantasias, de patrocinar o riso e promover a representação da vida cotidiana”.

Benedito Jorge Carneiro de Carvalho

(Texto escrito em tempo de pandemia (fev/2022)