A LAVAGEM "DE RUA" DA FESTA DE SÃO BARTOLOMEU
No último domingo foi realizada a lavagem “de rua” da Festa
de São Bartolomeu. A quantidade de pessoas que vieram de outras cidades para
essa tradicional manifestação popular ultrapassou todas as expectativas. A
população local quando despertou no domingo a cidade já estava repleta de
visitantes e a cada hora mais caravanas chegavam. Com tanta gente o centro da
cidade ficou congestionado. Diferente dos anos anteriores, os ônibus não
tiveram acesso ao centro da cidade, providência que se mostrou eficaz. O espaço
urbano central, ficou só para a população e para os visitantes. Na hora marcada
o cortejo das baianas, ricamente ornamentadas, estandartes rubros erguidos,
jarros de flores preparados com água de cheiro, acompanhadas pelo “terno de seu
Tibúrcio” chegaram ao adro da Matriz de São Bartolomeu onde uma multidão
aguardava com ansiedade. Com a presença da TVE, que fez a cobertura do evento,
teve inicio a cerimônia de lavagem do adro da Matriz sob os acordes do Hino de
São Bartolomeu. Uma verdadeira apoteose! A partir daí começou a lavagem “de
rua” como diz o povo. As músicas executadas pelo “terno de Seu Tibúrcio” deixam
margem para que os mais desinibidos, aproveitando o momento, extravasem os seus
recalques com palavras e gestos um tanto exagerados e obscenos. Isso, ainda
hoje, choca os mais recatados. Mas, virando as páginas empoeiradas do tempo,
vamos encontrar nos jornais de épocas passadas notícias sobre essa mesma
lavagem como sendo “...o espaço da desordem moral
onde se valoriza o baixo corporal, ambientes propícios para obscenidades...” . Daí vê-se que a
nossa lavagem “de rua” traz esse ingrediente desde o seu início, pois a notícia
acima foi publicada no jornal O Prélio editado em Maragogipe no dia 11 de agosto
de 1920. Buscando data mais remota, encontramos nas páginas do jornal A
Situação do dia 18 de agosto de 1879, com referência à lavagem “de rua” da
Festa de São Bartolomeu a seguinte afirmação: “... tais barbaridades fogem de nossa sensibilidade de cristãos.” Outros jornais antigos
também registraram para a história o que era a nossa lavagem. Vejamos o que
disse o jornal Eco publicado em Maragogipe no dia 07 de agosto de 1932: “... é um pandemônio, as batucadas nas barracas, que reuniam
indivíduos de conduta duvidosa e o proferimento de palavras obscenas...”. Tudo isso não estou a
escrever para justificar os excessos praticados, mas, para advertir aos que
ainda não se acostumaram com o ambiente “festivo” da nossa lavagem. Nossa
intenção é tão somente mostrar que, infelizmente, nossa festa começou assim,
venceu os anos, e, hoje com a frouxidão dos costumes, cabe aos que cultuam os
bons princípios não deixarem que os seus pratiquem tais comportamentos. A festa
de São Bartolomeu é, para aqueles que cultuam as boas tradições e a fé no nosso
padroeiro, o momento supremo de render agradecimentos e renovar sua crença.
Isso é que nos faz diferente, pois, essa festa inunda nossas almas de fiéis
servos de Jesus. E com esse sentimento, com base também em jornais antigos,
concluímos dizendo: “ Todos nos deixamos
arrebatar, alegres e felizes, na onda invencível da fé, na força impiedosa e na
consagração do espírito de catolicidade que herdamos dos nossos maiores e que
fazemos timbre de honra em conservar e zelar como patrimônio sagrado da
família...” como bem disse o jornal Maragogipe de 14 de Agosto de 1901.
Abilio Ubiratan
AGOSTO, 2009.